domingo, 23 de março de 2008

O amor é um movimento de contra si

“O amor é um movimento de contra si (...) vai de encontro à vontade choramingosa de ser amado, que nos conduz, todos, ao psicanalista.”
Gilles Deleuze

Existem razões para ter cuidado quando se pensa o que é o amor. Tido como sentimento, esta ação/sensação humana, pode revestir-se de uma faceta para justificar certa mobilização em prol de afetos e sensações luxuriantes. De fato, o amor nada tem a ver com delicadezas enfadonhas dos temas periodistas das novelas ou das canções. Embora não se abstenha de atividades da libido. Tais delicadezas podem ser belas e traduzíveis como amor, mas certamente é paixão, algo menos relutante que esse amor, embora, a princípio, muito mais empolgante. Podemos considerar como a paixão romântica.

O amor é outro algo, com toda expansividade dessa outridade. Importa a necessidade que não incomoda e a inexistência de objetividade na busca. Não existe razão concreta pelo desejado nem tão pouco uma dependência ensandecedora pelo suporte do amado.

O ser deseja amor. Mas de que isso trata? Por que alguma necessidade é a busca ou a razão da busca pelo amor?

O amor não é obviamente amor como conhecido por aí. Amor é amar na partida contínua pela outridade dos seres e todo seu entorno. O amor não é simplesmente ser amado. Não há solidão em amar, assim como não há tristeza. O amor que dói não é amor. É outra coisa, talvez uma circunstância sofrida em vista de sensações perdidas, em grande parte despertadas pelo desejo humano de saciar sua margem de prazer. A isso se chama definitivamente paixão. Larossa Bondía inclui que na paixão se dá “uma tensão entre liberdade e escravidão (...) uma tensão entre prazer e dor, entre felicidade e sofrimento, no sentido de que o sujeito apaixonado encontra sua felicidade ou ao menos o cumprimento de seu destino no padecimento que sua paixão lhe proporciona”. É importante ressaltar que o autor se refere nesse instante a experiência com o amor, algo que a paixão, em seu caráter essencial não proporciona. Em grande parte pela absoluta falta de tempo, em que se faz necessário o desenrolar de uma experiência, já que toda paixão se faz instantâneamente.

Não há solidão em amar, assim como não há tristeza. Parece que ao amar o desejo pelo ser amado é reconstruído e não há nenhuma perda ou vazio. A paixão é o prejuízo de quem se escraviza à necessidade contínua por recebê-la. Tristezas nascem pela ausência do amor. A liberação desenfreada da condição do amor é a propriedade mais humana que existe, depois talvez se posicionem ódio, raiva, rancor, mágoa e etc. Embora, a mola mestra seja a dor e não o amor a mover o mundo humano. Mas isso é outro assunto.

Amor implica na valorização da existência em seus aspectos de humorismo e do bem-estar (felicidade e paz). É o projeto de ações interiores em direção as expectativas desenfreadas sobre o bem. No “bem” cabem todas as realidades e circunstâncias animadoras da vida, cabe o olhar descamado sobre o projeto complexo que é viver, com suas dores e prazeres, infernos e paraísos. Não se trata, tudo isso, de certa expectativa ingênua, mas de alertar-se constante para o bem e para a referência do amor, na direção de atos e pensamentos amorosos. Atos que são práticas de raciocínios, posicionamentos, ética e afetos em direção ao outro humano.

Esperar pelo amor parece vivenciar a sinistra expectativa da dúvida ou do atraso, numa colaboração angustiante com algo insuficiente. A chegada desse amor não é uma aparição formulada pelo desejo, mas ascende dos atos de existência. As ações vitais que elancam as crenças pessoais, áreas de atuação e territórios possíveis. De certa forma, o amor parece desmantelar nossos poderes interiores de auto-suficiência e indiferença ao conjunto do ser amado. É a élégance de saber olhar ao redor. Um estratagema para uma vida de coisas mais clandestinas, mais alegres, fora das concessões e condições que impedem o verdadeiro amar.

18 comentários:

Unknown disse...

Amor e paixão foram e são temas instigados por poetas,filósofos,escritores e até mesmo por nós (pobres mortais).È complexo falar de tais sentimentos ou sensações,mas o autor com a graça de um poeta, com a ousadia de um filósofo e com a habilidade de um escritor conseguiu explorar, embora de forma não tão simples, os caminhos, ou os descaminhos, do amor e da paixão. Atrevo-me a dizer que tudo relacionado a esses extremos ou complementos não são verdades absolutas, o ato de amar não deve ser doloroso, porém, infelizmente, pode ser. Afinal, eu posso amar e não poder(por algum motivo)viver esse amor. Pode até haver um 'padrão de amar', no entanto, cada um sabe, individualmente, se dói ou não tal sentimento.

Sandra Oliveira disse...

"Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.



Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr’ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d’ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora.
Compr’ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!

Se tal paixão enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d’êxtasis puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;

Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;

Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!

Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneiando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!"

***

Seremos nós pobres mortais, capazes de entender ou fazer entender o que o amor?!?!?!

Beijo Duda, entre tantas coisas, poeta...!

Sandra Carvalho Oliveira.

Filho disse...

Uhn... entendi o que você quer dizer, mas não compreendo. Todo o seu discurso sobre o amor apenas resvala no campo de uma experiência da qual eu ainda não participei. Experimento apenas a paixão e esta revolve o interior das minhas entranhas e faz eu expelir os excrementos de algo que não gosto de ser... Quase desejo conhecer essa ternura que você julga ser o amor, mas não sei se o amor é assim tão auto-suficiente ou se isso é apenas uma idéia criada para nos aliviar de tanta dor. Gosto do sofrimento da paixão, da paixão de Cristo, da paixão de quem é apaixonado pela paixão de Cristo.(risos)Minto, não tenho pensamentos tão elevados assim. Antes aprecio o escarro, as paixões dos traidores, o simples abuso do corpo, talvez até o estupro. Coisas facéis de perdoar.

Beijos, professor.

Mila Botto disse...

A paixão dá e passa. O amor fica com todos os limites que esse mundo coloca no caminho. A paixão é arrebatora e muitas vezes, faz estragos. O amor é mais amigo, companheiro de todas as horas. Mas é difícil achar. O amor mais seguro que já nasce com a gente e sempre teremos é o amor paterno e materno. Beijos professor.

Anônimo disse...

De fato, concordo com o que você escreveu. Em minha época juvenil, e acredito que ainda sou visto que tenho vinte anos, mas na época do colegio eu acreditava muito nessa questão do amor, só que de uma forma mais voltada para o ultra-romantismo, principalmente de Alvares de Azevedo. No entanto, esse desejo de amar, esse desejo de casamento, de se apaixonar, de ser feliz e de tantas outras coisas que movem o ser humano, não me causam um certo fascinio. Por exemplo, não vejo uma certa necessidade e importância em se casar. Porém, o desejo de casamento está impregnado no desejo de ser "para sempre". A busca pelo amor se dá com mesma intensidade quando falamos da busca pela felicidade, da busca do viver.

Acredito que posso estar viajando um pouco na sua filosofia da questão do amor, de amar, de ser amado e, de certa forma, isso causa uma vontade incrível de poder amar, de poder dividir esse sentimento, mas também de tê-lo de volta. O amor, ao mesmo tempo que pode vir a felicidade, também vem as incertezas e outros sentimentos que nos acompanham.

Abraços.

Te adicionei no meu blog.

Juliana Correia disse...

Bom, eu sou amiga de Vinicius Silva, que é seu aluno e me recomendou seu blog dizendo que eu me identificaria. Ele acertou em cheio. Achei o texto bonito, o amor é sempre um tema delicado, e o embasamento que você deu abriu para a discurssão, mas não para o clichê utópico.
Essa dicotomia paixão X amor também é uma constante. Primeiro vem um para depois o outro? Um sobrevive ao outro? Um sobrepõe-se ao outro? Acho que atualmente, a minha geração e as subsequentes em formação, de uma maneira geral, ignoram o amor. Nesse ritmo frenético de vida, que tudo é pra hoje, que tudo é pro prazer, que tudo é pela beleza... o amor perde platéia e a paixãp cativa as multidões - a príncipio ela oferece as mesmas coisas, cobrando muito menos por elas. Menos dedicação, menos comprometimento, menos ALMA. E falar de alma hoje em dia é quase que uma expressão do desinteressantismo que você vai conquistar...
Em resumo, adorei o texto e principalmente a citação do começo, como estudante de psicologia e leitora assídua dos livros de área..me lembrou um prefácio de um dos livros de Irvin Yalom, que ele diz que no contato humano vemos seres que gritam, por amores perdidos, por pessoas que não entendem, por momentos esvaídos, pelo medo da morte, o desejo do amor e da vida. Estamos sempre gritando internamente, e em um mundo que não nos ouve e ainda nos silencia em nossas idiossincrasias, não temos solução que não ir para o divã...
Parabéns!


Juliana Correia
www.conversadebotasbatidas.blogs.sapo.pt

Juliana Correia disse...

* discussão

Duda Bastos disse...

Há algo em vista do silêncio. Se gritam é porque não precisam gritar. Não descobriram outros gestos ou diálogos ultra-interiores. De igual pra igual cada um pode ser o melhor interlocutor de si próprio. Mas algumas pessoas demoram para aprender a falar, andar. A resposta se confabula na inflexão do silêncio: eu me pergunto, eu me respondo. Tempo para se ouvir ou a coragem para se saber diante do irresolvível. Tempo para aprender o silêncio. O universo é puro silêncio, trata-se de didática cósmica. Não se conhece um lago desesperado, assim como a angústia é filha do medo e prima-irmã da depressão (Inácio Larrañaga). Existe mais silêncio no unviverso do que barulhos, ruídos, falações. Não digo sobre a perspectiva de isolamento, fechamento ou sublimação. A auto-suficiência provém de uma fleuma desnecessária para a vida humana. Algumas pessoas próximas são possíveis para o enredo pessoal, não o psicanalista. A solitude não nos interessa e nem tão pouco quem mal ou quase nada sabe de nós. Adeus Freud!

Cleber: disse...

Gostei do texto, muito bem escrito (é, eu sei, é muita audácia minha analisar esse texto...)
Vou me ater a esse breve comentário, já que o tema abordado é para mim uma perda de tempo...

começou bem o blog...
abraço.

Larissa Gil disse...

Acredito que com palabras não se pode legitimar o conhecimento, entendimento e outros “entos” desse sentimento que é o amor. Talvez algo más abstrato do que ele, como la experiencia y vivencia.
“O amor é um sentimento, dessa forma é abstrato, sem forma, sem cor, sem tamanho ou textura. Mas é por si só: O sentimento em excelência; o que quer dizer que é o sentimento primário e inicial de todo e cada ser humano, animal ou qualquer outro ser dotado de sentimentos e capacidade de raciocínio natural”.
Veja bem Duda, é minha maneira de “filosofar este tema” sou mais crítica do que metafísica.Adorei sua reflexão, ñ pude permitir o silêncio rs,vou continuar...

O que alguns chaman de dor nesse sentimento, eu traduzo como; inseguranças, incertezas e inquietudes por lo tanto, isso não é amor. Em nenhuma das suas diversas formas(amor físico, amor platônico, amor materno, amor a Deus, amor à vida), níveis(social, afetivo, paternal ou maternal, fraternal..) e estilos(Eros, Psiquê, Ludus, storge, pragma, mania, agape). A “dor”, é um elemento de outros sentimentos e não do amor.
Eu ideológicamente ñ sou capaz de reflexionar o amor com pensamento platônico: “Em seus diálogos, Sócrates dizia que o amor era a única coisa que ele podia entender e falar com conhecimento de causa. Platão compara-o a uma caçada (comparação aplicada também ao ato de conhecer) e distinguia três tipos de amor: o amor terreno, do corpo; o amor da alma, celestial (que leva ao conhecimento e o produz); e outro que é a mistura dos dois. Em todo caso o amor, em Platão, é o desejo por algo que não se possui”.

"Se tendes amor, possuís tudo o que há de desejável na Terra, possuís preciosíssima pérola, que nem os acontecimentos, nem as maldades dos que vos odeiem e persigam poderão arrebatar."
(Amor dito na palavra do Evangelho)

Uma contradição mostra ñ é verdade?
E se é verdade mesmo, que o amor é a formação de um vínculo emocional com alguém que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.Deixo aqui uma frase para uma reflexão final sobre o tema.

"Amo a liberdade, pro isso, todas as coisas que amo deixo-as livre, se voltarem é porque as conquistei, senão é porque jamais as possui..."
John Lennon

Ihhh ficou foi grande esse texto.... é um comentário ou um livro??? hahaha

Bjos
Larissa Gil

Aline Castro disse...

Delinear a ocupação do amor no discurso poético dos amantes seria tarefa fácil se não colocássemos a prova o poder do mito do amor romântico, cuja potência é amparada pela oferta de felicidade evidenciada nas mais maravilhosas “histórias de amor” durante séculos. Na arte não existe carência de satisfação, pelo contrário, ela extirpa rigorosamente as frustrações dos desejos humanos para atingir o ápice do discurso criativo. A forma obsessiva do amor imprimida nas palavras do poeta nos traz a compreensão de que este vocábulo intenso e trágico certamente trata-se de ilusão, pensamento este que sustenta a idéia da inevitabilidade do amor e suas possibilidades, onde o impossível é inexistente.

Existe no amor uma tendência a funcionar como modelo de busca da felicidade, uma promessa imaginária de plenitude, possuindo assim um caráter ilusório tolerante ao mal-estar próprio do desejo humano embriagado de idealizações, sendo a ilusão um processo de engano da psique que se recusa a enfrentar a realidade. De acordo com esta perspectiva, a tentativa de substituir a falta de desejo, a perda, a ausência, seria o amor. Uma busca incessante no preenchimento de lacunas concebidas ao penetrarmos no mundo simbólico inerente à estrutura da psique. Dessa maneira podemos criticar a paixão como uma invenção demasiadamente humana que, na verdade é uma situação criada para fugir da responsabilidade da própria infelicidade, na tentativa de culpar o outro por não satisfazê-lo.

O amor como paixão é o amar para ser amado entrelaçado a ignorância, onde o amado torna-se o amante que responde pela falta. É este amor-paixão que leva o sujeito a acreditar na loucura e sofrer, é a crença nesse amor romântico que agrega outros sentimentos como insegurança, medo e desvalorização, indicando um caminho de dores, tristezas e incertezas. A loucura seria a inexistência da distância que devemos manter uns dos outros já que o apaixonado tem como desejo principal transformar 2 em 1.
Bathes, em Fragmentos de um discurso amoroso, deduz que “Por uma lógica singular, o sujeito apaixonado percebe o outro como um Tudo, e, ao mesmo tempo, esse Tudo parece comportar um resto que não pode ser dito. (...) Adorável! não abriga nenhuma qualidade, a não ser o tudo do afeto. Entretanto, ao mesmo tempo que adorável diz tudo, diz também o que falta ao tudo.”.

Segundo Spinoza, “O amor é uma cócega acompanhada da idéia de uma causa exterior.”. Assim, caracterizo a busca do sujeito pela felicidade no objeto, sendo esta uma falsa busca, já que a felicidade está em si mesmo anulando o conceito de complementaridade.

Até aqui tratei o amor como fenômeno, ou o que parece ser, tal como se manifesta, levando em consideração as influências do ambiente em que fomos inseridos ao nascer e as manifestações artísticas que sustentam esse amor romântico, o que não quer dizer que eu não acredite no amor. Estou aprendendo a me desfazer dos resquícios moralistas ou não que por conveniência e pelas tais influências, me acompanharam até pouco tempo atrás. Pouquíssimo. Em verdade, estou em processo constante e dolorido de formação de uma consciência individual e tenho muito o que explorar, outros filósofos, outros conceitos e ampliar a minha compreensão sobre o tema, por isso limitei-me nessas poucas palavras, sabendo que ainda não posso dizer o que é o amor, mas posso afirmar o que ele não é e deixar fluir, sentir.

Duda Bastos disse...

Para você ideal seria "despisicologizar" a coisa. As vezes é uma linha muito fina, uma película entre Filos e Psi.e daí falar de fenômeno pode provocar menos e explicar mais. Sugestão: "Esboço para uma teoria das emoções" de Jean-Paul Sartre.
Você vai encontrar algo pra começar. Não dá pra saber apenas pelos outros o que é o amor e seus devenires. Voi lá!

Anônimo disse...

Que seja assim
Como quem voa.
Mesmo que arranhe,
Mesmo que sangre,
Mesmo que doa.
Mas que se ame
Como quem voa.
Mesmo que arranhe,
Mesmo que sangre,
Mesmo que doa.

Um grande abraço.
Gildes Bezerra

Duda Bastos disse...

Bardo poeta Gildes Bezerra, você escreveu menos que eu e disse tudo.

lia disse...

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Unknown disse...

O amor é um tema complexo. Ninguém ama da mesma forma, por isso nunca devemos comparar o seu tamanho ou julgar se é ou não amor o que o outro sente. É um sentimento único, individual. Talvez ele seja inexplicável, apenas se sente. Embora pareça um sentimento irracional, pois, às vezes, parecemos agir como tal, talvez seja ele o mais racional que há. Perfeito só o amor de Deus.

Sentimento terno, sereno, imensurável, onipresente. Sentimento que move o mundo, em suas várias modalidades. Surge de forma singular, e não nos permite escolher a quem amar. Por isso você tem toda razão em dizer que amar não é ser amado, porque às vezes amamos sozinhos. Mas nem por isso enlouquecemos, cobramos do outro. Porém, o que mais desejamos é que ele seja bilateral, e se não o é, ele causa sim, solidão, pois são dois seres humanos e cada um com suas individualidades e necessidades. Essa solidão não é revelada, pois o amor não incomoda. Sempre que estamos ao lado do ser que amamos ou acreditamos amar, não existe mais apenas eu, a solidão torna-se inexistente; procuramos dar, mostrar ao outro o que há de melhor em nós. No momento em que estamos juntos, o nosso único foco é agradar, apoiar, direcionar, suprir qualquer tipo de necessidade, desejo que o outro tenha. Tentar suprir seja com o corpo, com palavras (mesmo que essas palavras não sejam de concordância, mas de tentar induzi-lo a uma avaliação que o ajude a ver os prós e os contras de suas escolhas ou ajudá-lo a encontrar um outro caminho, alternativas), com afagos, beijos, ou apenas com o calor de um abraço demorado, em silêncio, na tentativa de sugar qualquer dúvida, insegurança que venha enfraquecer esse ser, em todos os sentidos. Há cumplicidade no Amor.


Entretanto, se a necessidade individual de se sentir amado não for suprida, não digo inteiramente, porque o ser humano é uma incógnita e parece nunca estar satisfeito; mas, se ela não for levada em consideração, há sim uma tristeza por não ser correspondido como acredita que deve ser. O Amor não é apenas doação, entrega, é também recepção. E se não há doação do ser amado, há tristeza do outro pela falta de reciprocidade. Por mais que ele tenha força, se ele for tratado com indiferença ou não correspondido, ele poderá afastar-se, para ir em busca de se sentir amado. Mas isso não significa o seu fim, ele apenas ficará recôndito, escondido e sempre pronto a atender a solicitação de quem ele ama. Uma coisa é verdade: ele nunca é indiferente, às vezes se tranca em si mesmo para se recuperar. A sua ausência também causa tristeza.

Talvez tudo que relatei aqui não signifique amor pra você e pra ninguém. Talvez tudo que vivi até hoje não tenha sido amor, mas o ato de amar é uma experiência pessoal, particular, única. Sinceramente não acredito que o amor possa ser realmente explicado por palavras. Acredito que ele só possa ser representado, reconhecido em gestos, toques, olhares, no interesse, no cuidado, no entrelaçar dos corpos utilizando todos os órgãos dos sentidos, na cumplicidade, no companheirismo, na lealdade, na união, no ato de ceder ou não... no respeito a si mesmo, no respeito a individualidade do outro, pois o amor não sufoca, é livre.

Apesar do receio de perder a quem se ama, o amor nos dá uma sensação de segurança, liberdade, poder para conquistar e desbravar o mundo. Desejamos que o amor seja eterno e intenso, ele o é, enquanto dura. Nós só amamos quem admiramos, e se essa admiração for balançada ou perdida certamente atingirá sua durabilidade. Acredito também que não devemos viver condenados a amar uma pessoa que não tem o mesmo sentimento por nós. O amor não é flagelo. Não existe apenas uma pessoa a quem podemos amar, mas, cada uma a seu tempo. Eu acredito na lealdade do amor. Apesar da grandiosidade do amor que sentimos, não devemos negar a nós mesmos em nome desse sentimento. Não devemos viver a vida do outro como se fosse a nossa. Esse ato maquiaria o amor, e mais mais cedo ou mais tarde haveria uma cobrança. Isso não significa que o sentimos não seja amor ou que ele tenha acabado, apenas estaria vindo à tona a nossa parte humana. Na verdade, ele só deixa de existir quando desistimos dele.

Duda Bastos disse...

Cinara,
existe uma pequena contradição em suas palavras, pois você deu uma visagem do que é amor para você. E usou os potenciais léxicos. É possível desvencilhar algo tão humano, principalmente em palavras, de significações eqúivocadas. Ao mesmo tempo, que, dá pra se desconfundir com tudo isso.

Anônimo disse...

Acho que quanto menor o vazio que fica da ausência do amor
Mais benéfico foi em sua dimensão
O amor preenche não esvazia
Assim amigo consinto – se dói não é amor
Acredito no amor mais calmo
Intenso sem ser arrebatador
Aquele que suporta o silêncio e os olhares
Que se basta em si
Num abraço, na tranqüilidade, no querer bem demais
No se permitir fazer coisas juntos, assim como separados
No estar bem e em paz
No sorrir dia sim dia não

Amar é não abdicar de nada em função do outro
E sim construir querer construir estar construir desejar construir
Ser amada é se experimentar inteira, mulher, amiga, companheira, respeitada, admirada, querida
Amar é se descobrir através do outro, sofrer às vezes nas suas impossibilidades...
No amor
O que é verdadeiro é eterno
E se repete
De diferentes formas
Com diferentes pessoas